Textos

(…) Dispensando esquissos e projectos em papel, Carlos Ramos como que num impulso repentino prefere passar directamente para a matéria, deixando a obra fluir e crescer na sua escala e contornos.

As suas peças traduzem-se em formas orgânicas depuradas, numa linguagem própria e madura. Podemos encontrar em algumas das suas obras letras, versos que complementam a poesia da peça. Independentemente do material com que trabalha (pedra ou ferro), Carlos Ramos desenvolve com mestria um jogo espacial que ajuda a consolidar a atmosfera da peça, criando espaços vazios no seu interior que vivificam a densidade e o peso da obra. O pedestal que acompanha as suas esculturas tem a mesma importância que as peças que suporta, sendo igualmente trabalhado.

(…) Carlos Ramos revela ser um artista ousado pelo carácter organicista que imprime ás peças, pela conjugação de materiais e pela experimentação de um médium como a natureza.

                                                                                                                Catarina da Ponte

                                                                                                                              Curadora

(…) Os trabalhos de Carlos Ramos têm uma evidente ligação à mãe-natureza, fazendo-nos lembrar o célebre texto de Padre António Vieira, quando nos descreve de uma forma, que nos apraz considerar de sublime:”…o escultor que foi ao mato e cortou um tronco, partiu-o em dus partes ou cepos. Um, fendeu-o em achas, que foram para o lume e ao outro pôs-lhe a regra, lançou-lhe as linhas, desbastou-o e tomando o maço e o escopro, a goiva e o buril, foi-o afeiçoando em forma humana. Alisou-lhe a testa, rasgou-lhe uns olhos, afilou-lhe um nariz, abriu-lhe uma boca, ondeou-lhe uns cabelos no rosto, foi-lhe seguindo os ombros, os braços, as mãos, o peito e o resto do corpo até aos pés. E feito em tudo uma figura de homem, pô-lo sobre o altar e adorou-o”.

                                                                                                                    Nuno Lima de Carvalho